sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Entrevista com Paulo Carneiro



O blog Bastidores Futebol Clube inaugura sua sessão de entrevistas. E o primeiro a conversar conosco foi Paulo Carneiro. Ex-presidente do Esporte Clube Vitória e ex-diretor do Esporte Clube Bahia, Paulo compartilha conosco seu conhecimento sobre o futebol moderno e fala sobre Copa do Mundo no Brasil, Lei Pelé, repatriações dentre outras coisas.

BFC: Paulo, vem aí uma Copa do Mundo. O que o futebol brasileiro tem a ganhar com isso?

PC: Acho que muita coisa. Principalmente nos equipamentos esportivos. As novas Arenas vão estabelecer um novo padrão no país e irão influenciar na instalação e modernização de equipamentos menores. O Marketing Esportivo já experimenta um grande aquecimento com grande movimentação de empresas estrangeiras buscando parcerias no país e empresas brasileiras criando seus bureaux de marketing e promoções esportivas. Embalado pela crise econômica na Europa, os atletas começam a migrar para o Brasil, embora os negócios ainda deixem reféns os clubes, pois invadem propriedades comerciais quando os clubes deveriam ter receitas próprias para bancar essas contratações. E por último a expectativa de uma ampla reforma na estrutura de competições brasileiras por conta da demanda dos operadores das Arenas, que não vão aceitar abrir seus equipamentos esportivos para jogos e competições sem expressão. Essa pelo menos é a nossa expectativa.

BFC: Qual finalidade terão as arenas dos estados, cujo os principais times já tem estádio, como Pernambuco?

PC: São outros equipamentos e os clubes vão perceber que permanecer nos seus velhos estádios estarão na contra mão do negócio e de suas oportunidades.

BFC: E o estádio de Pituaçú. Você acha que se tornará um elefante branco?

PC: Acho que se abrirá uma grande oportunidade para locação desse estádio, tirando esse peso do Estado e determinando aí o nascimento e soerguimento de uma nova instituição esportiva com braço no entretenimento.

BFC: E sobre os sócios dos clubes. Sabemos que é uma grande fonte de receita. Você acha que os clubes brasileiros já acordaram para isso?

PC: Acho que sim. Mas a implantação definitiva em clubes médios e pequenos só se dará com essa reforma que comentei na sua primeira pergunta.

BFC: Sobre o processo de eleição dos clubes. Você acha que ainda somos muito atrasados?

PC: Temos uma estrutura societária advinda dos nossos colonizadores, os portugueses. Somos instituição sem fins lucrativos. Mas Portugal está mudando e nossa mudança deveria ter acontecido no final da década de 9.A Lei Pelé (1998 possibilitou que os clubes pudessem se transformar em sociedades empresárias). Interesses outros como briga pela audiência na TV Aberta e Fechada, determinaram uma mudança na legislação, inibindo a chegada de potenciais compradores de Ativos dos nossos clubes. Tenho certeza que esses Ativos do Vitória S/A, que recompramos em 2004 por míseros 500 mil dólares, ainda vão valer uma fortuna. Teríamos um futebol muito mais rico e organizados se os clubes tivessem outra modelo social e o Governo entrando com uma legislação tributária especial para esse segmento.

BFC: Paulo, qual a saída para acabar com o assédio de empresarios às promessas que ainda não tem idade mínima para ter contrato com seus clubes?

PC: Mas o assédio também são dos clubes grandes e fundos de investimento. Difícil, pois abaixo de 16 anos são ainda crianças e tratados pelo ECA(Estatuto da Criança e do Adolescente). Mas alguma coisa está vindo na reforma da Lei Pelé, como proibir que nessa idade esses jovens atletas tenham empresários.

BFC: No geral, qual o impacto da lei Pelé no futebol brasileiro?

PC: Determinou uma nova ordem econômica com o aumento da influencia de intermediários na geração de receitas dos clubes na venda de direitos federativos.

BFC: E essa "onda" de repatriações de craques brasileiros (Ronaldo, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Fred, Elano...). O que você acha?

PC: Já tratei acima. Me preocupa um pouco a forma dos negócios, aonde os atletas passam a ser mais importantes que os clubes.

BFC: O que empresas que ajudam a bancar o salários desses craques, ganham com esse investimento?

PC: Visibilidade.

BFC: Você, quando presidente do Vitória, gostava de contratar jogadores com nome (Túlio, Bebeto, Edílson, Vampeta...). Que tipo de benefícios essas contratações podem trazer ao clube?

PC: Um clube não pode viver sem um ídolo. Os benefícios são grandes no campo, com o aumento da eficiência da performance técnica e fora, agregando valor a marca, para potencializar receitas das propriedades comerciais do clube.

2 comentários:

  1. Muito boa a entrevista!

    Como conseguiu entrevistá-lo?

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  2. "Me preocupa um pouco a forma dos negócios, aonde os atletas passam a ser mais importantes que os clubes." Concordo plenamente, os clubes estão perdendo a identidade. Ninguém quer ver o flamengo jogar, mas sim o "Time de Ronaldinho"

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